domingo, 1 de dezembro de 2013

O poema em construção.

Cena

Na folha deserta,
Desliza a pena,
Cada palavra aberta
Tece a vida do poema.

E a ideia incerta,
Da aridez despida,
Torna-se liberta
Na teia construída.

E o poema nascido,
Na alma de quem o lê,
Pulsa-lhe o sentido.

E por tudo que se vê,
O todo é repartido.
Parte ideia, parte sentido.

MAReis

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O Quadro na Sala de Jantar.

 “O quadro na sala de jantar não é apenas um quadro. É a casa do sítio”
 MAReis
A casa do sítio

Pão de casa e forno de barro.
Doce de leite, goiabada e fogão a lenha.
Manteiga batida e tigela branca.
Omelete e ovo caipira.
Café preto e coador de pano.
Chá mate e brasa acesa.

A Casa do sítio

Assoalho e ranger de madeira.
Grito de galo no poleiro.
Mugido do gado no pasto.
Sabiás, pardais, bem-te-vis, tico-ticos ....
Agonia faminta dos porcos nos chiqueiros.

A casa do sítio

Jardim e suas roseiras.
Uva mudara na parreira.
Jaqueira e jaca espalhada no chão.
Manga rosa, espada, coquinho, teta-de-moça ....
Laranja, mexirica, tangerina, lima, ......

A casa do sítio

O cheiro do fumo de corda.
O tilintar dos arreios.
Os terreiros e suas sacas.
A tulha e o café seco.
O paiol e o milho.

A casa do sítio

O jirau.
O moinho de café.
O cilindro de massa.
A moenda de cana.
O debulhador de milho.
A trituradora de capim.

A casa do sítio

A carne salgada.
O torresmo no tacho.
O sabão de soda.
A calça de brim.
A bota, botina e a chinela de dedo.
  
A casa do sítio

A cachoeira e o matadouro.
A figueira atrás da tulha.
A casa de madeira no fim da rua.
O curral e o campo além da cerca.
A peneira, a foice, a enxada, o rastelo ....

A casa do sítio

Coaxares dos sapos e os cantares de grilos.
A chuva e as revoadas das iças.
O zumbir das abelhas e o mel da tulha.
O estilingue, a arapuca, a cartucheira.
A rã e a fisga.

A Casa do sítio

O porão, as abóboras, morangas, buchas vegetais.
O arroz em casca, sal grosso, adubo.
Tambor de óleo diesel e de leite fresco.
A garagem, o trator, o caminhão, o jeep.
O quartinho, o açúcar empilhado, café torrado.

A casa do sítio

O gambá na chaminé,
O baralho na mesa da sala,
O milho verde, a pamonha, o bolo de fubá e o curau.
A cidra, a cidreira, a erva- de - santa maria.
Bicho de pé, carrapato e micuim

A casa do sítio

Dona Nega, Dona Maria, Dona Salu.
Dona Ana, Dona Tereza, Ti Odora.
Seu Donato, Seu Filipe, Seu Dorival.
Tiça, Baiano, Circinho, Maria, Diolinda,
Olga, outra Maria, Seu Sobrinho, Pedrinho, Áurea, Antonio .....

A casa do sítio é

Pai, mãe, irmãos e irmãs,
Sonhos e memórias.
O primeiro beijo.
O primeiro desejo.
Um monte Saudades.

Não entendeu nada?
Não tem importância nenhuma. Basta o quadro. Ele não é lindo? “O que está além da imagem é memória.”

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Do 4º Andar.

Da Janela do 4º Andar

Segunda -Feira

Quando abri a janela do meu quarto, havia no horizonte um pedaço de nuvem desgarrado no ceu. Perdia-se silenciosamente, na infinita amplitude azul. Que pena!  Voltei para dentro do quarto, para dentro de mim e voltaram os pensamentos, uma imensa vontade de vagabundear. A televisão ligada, uma Ferrari capotada na marginal. Na segunda-feira, meu carro sem combustível, meu cheque sem fundo, não consigo dormir, acordado em mim, vou trabalhar! Tédio!!!

quinta-feira, 28 de março de 2013

Aqui te Esperamos


Nós te Queremos
 
Se não puderes andar;
Ajudar-te-emos a ir além;
Se não puderes falar;
Emprestar-te- emos a nossa voz;
Para que construas o teu caminho;
Se não puderes ouvir,
Emprestar-te-emos os nossos ouvidos;
Para que descubras outras formas de sentir os sons;
Se não puderes enxergar;
Emprestar-te-emos os nossos olhos;
Para que aprendas a tocar as cores;
Se não puderes cantar;
Ensinar-te-emos a dançar;
Se não puderes ler o mundo;
Traduzi-lo-emos em sons, imagens e sentidos;
Se quiseres chorar;
Construir-te-emos sorrisos;
Se não puderes vir
Iremos te buscar;
 
 
E se nada disto acontecer?
Sobram-nos as mãos;
Para um abraço.
Sobram-nos os gestos
Para os afagos;
Sobra-nos a boca,
Para muitos risos;
Sobra-nos a face;
Para o beijo;
Sobra-nos o coração;
Para te sentir,
Para te amar!
MAReis