sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Aquela Casa



Aquela Casa

De dentro da casa, pela janela da sala,
Os olhos ansiosos buscam pelo jardim,
Mas aquele jardim já não está mais lá,
Não há flores, nem cores, nada enfim.

Tudo tão estranho, tudo tão em desalinho,
O mato agigantou-se, intimidou as flores,
Das roseiras, nem uma rosa, só espinhos,
Canteiros se perderam na falta das cores.

Naquele adeus, o jardim despiu-se das flores,
E daquelas flores despediram-se todas as cores.
Então, fechou-se a casa por trás das janelas,
E das flores, o perfume de cada uma delas.

Aquele jardim, nas suas cores e suas flores, vivia dela,
As flores não enfeitavam a casa, enfeitavam-se para ela.
Os perfumes que enchiam a casa não vinham das flores,
Vinham dos seus encantos, dos seus cantos e seus odores.

Hoje, naquela mesma casa, reside viva a espera
Pacientemente, por trás das portas e das janelas
De alguém, de outro jardim e de outra primavera,
Que lhe enfeite de flores e lhe dê o aroma delas!!!  

 MAReis

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Depois!!!



Depois!!!

Os olhares entorpecidos
Atravessam a transparência
Da taça suada sobre a mesa
Da festa vestida de seda.

A música enfeita os corpos,
No chão, o guardanapo guarda
A boca vermelha de batom,
E o segundo antes do beijo.

A cortina dança e convida
A brisa para brincar,
No desalinho dos cabelos 
E nos sorrisos que resistem.

E, no teto, a lâmpada acesa
Sustenta a madrugada
Último raio de luz sobre
O sonho que adormece!!!

MAReis

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Grito

Grito!

O grito só será grito
No grito do outro.
A ser reconstruído,
No eco diluído.
 
Há uma verdade
A ser desmentida,
Na aridez das ruas,
Há um futuro
A ser desvendado,
Na anemia de um grito
E na força de todos os gritos.

Há um tempo para sentir,
Os pensamentos ilhados,
Nos ouvidos surdos,
Nas intenções adiadas,
Nas cores das máscaras,
Nos gritos camuflados
E no grito de cada um.

E no silêncio
De todo segredo
Outros gritos
Serão escritos
No livro das ideias
De todos os gritos!!!

MAReis

Sonho

Sonho

Com o poema perfeito,
Em que caibam
Todos os meus sonhos,
Todos os meus dias,
O poema perfeito,
Em que estejam
Todos os abraços repartidos,
Todos os abraços não dados,
Os beijos que experimentei,
Os beijos que não dei.
O poema perfeito,
Em que revivam,
 Os acenos interrompidos,
Os apertos de mãos dados,
E aqueles que não dei.
Sonho!!!

 MAReis

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Asas



Asas



Na boca,

Há sempre

A palavra contida

Em cada gota

De saudade sentida.



À sombra dos olhos,

Repousam, inadvertidas,

As lágrimas,

As mãos aflitas,

As dores legítimas.



E o tempo inventa

Asas para a lagarta  

Esparramar flores

Pelos caminhos do olhar

Perdido!!!

MAReis

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Putz, e Agora.

Socorro!!!

Estou perdido.
Caraca, não sei voltar.
E agora?
Fico parado?
Tédio.
Vou em frente?
Socorro!!!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Aos Meus Irmãos



Aos meus irmãos,
De coração para coração.


(Há hábitos que são tragados pela ordem natural da vida. Inevitáveis, só podem ser revividos na memória. Pior são aqueles que matamos por opções e só depois percebemos a falta que eles nos fazem).

Neste domingo, inverterei a lógica natural das coisas. Pedirei a Deus um presente.
Um sonho! Um sonho com minha mãe!!
Vou dizer a Ele, que não precisa ser do tamanho da minha saudade.  Afinal, ela é tão grande e tanta que não caberia em um sonho. Pedirei um sonho que seja mágico, em que eu possa beijar o rosto vivo de minha mãe. E ao beijá-lo, ao pé do ouvido, falarei baixinho:
Que saudade eu tenho de você!!!  
Depois, ainda no gozo da felicidade, segurarei as suas mãos e nela encostarei meu rosto em busca do carinho que ficou perdido no tempo. E quando saciado de lembranças, levantarei meus olhos e os fixarei nos dela e, como outros tantos filhos a suas mães, desejar-lhe-ei um feliz dia das mães. E ela, como tudo que me foi luz, há de me deixar um sorriso do tamanho que me resta a viver!!!
MAReis

Hipótese

Hipótese

Do outro lado do rio,
Além da margem
Do que se conhece
Tudo é hipótese,
Na razão ou no delírio,
O mistério resiste!!!

MAReis

Relatividades



Relatividades
Um pingo de água 
Na boca aveludada 
Da tarântula
É veneno.
Um pingo de água
Na boca cansada
Do operário
É suor.
Um pingo de água
Na boca manchada
De batom
É lágrima.
Um pingo de água
Na boca tremula
Do tempo
É solidão.
Mas no esforço do abraço,
A água, lentamente, pinga 
Lavando o veneno das mágoas,
Varrendo a solidão do tempo,
Dando novos sentidos 
Para as lágrimas.
Lá fora, canta o telhado
Ao ritmo sereno da chuva,
Aqui dentro, entorpecido,
O sono reinventa os sonhos
Para a alma e para a vida!!!

MAReis

Imediatas



Impressões Imediatas
                                            
Estranho este aeroporto,
Nele a asa da aeronave
 Mete sombra na vida da avenida!!

Viver em Minas Gerais,
É um eterno escalar.  
É ver o mundo de cima.
E lá em cima, tudo fica mais bonito!!

Olho a mala que puxa o viajante.
Ouça voz sensualizada do próximo voo.
Inalo o aroma do café apressado.
Sinto os beijos e os abraços das despedidas.
Mastigo inadvertidamente a tampa da caneta.
Vou assim, na razão incerta,
Coletando o sentido matéria
 Para  um próximo verso.

MAReis

O Pecado



O Pecado

Sentou-se ao meu lado,
A distância de uma poltrona vazia.
Cinquenta minutos contados,
Disfarçando o mal que me fazia,
Fingindo um sono que não existia.

Por sorte, eu tinha,
Em defesa minha,
Contra a heresia
Olhos na poesia
De um Leminski!!!

MAReis

Aplauso



Aplauso

Na perfeição dos giros,
Na leveza dos movimentos,
O corpo agiganta-se na luz,
Unindo as notas às formas.

Sob dedos em ristes, silenciosamente,
A madeira geme e range indiferente,
E os olhos embriagados pelo que veem
 Reinventam-se no rodopio do salto.

Quando a última nota da melodia
Liberta-se no gesto convulsionado,
A bailarina abre os braços aos vivas,
E rende-se ao êxtase do aplauso!!!

MAReis

Tragédia



Tragédia

A abelha
Em busca da flor,
Distraída,
Entrou no bar,
Mergulhou no copo,
Morreu afogada,
No último gole
De coca-cola.

MAReis

Pulsa



Pulsa

 Pulsam os corações em brasas
E as vidas em Fênix renascidas
Levantam convulsionadas as asas
Abandonando as vestes destituídas.

E as asas em movimentos contínuos
Espalham as cinzas deixadas na praça.
E a cidade explode em gritos uníssonos,
Revelando a dor no clamor da massa.

E brada a torre os sinais de alerta
À luz da arritmia cardíaca da cidade
Rompe-se avenida em ferida aberta
E o sangue tinge a heterogeneidade

Chora o que busca o pão
Chora o sem terra e o sem teto,
Chora o peito do patrão
Chora o ofendido e o desafeto

Chora o médico e o doente,
Chora a pressa e o preso
Chora o ébrio a aguardente
Chora a enamorado o desprezo

Chora o gigolô e a prostituta
Chora o bancário e o banqueiro,
Chora o velho e o menino a labuta
Chora o motorista e o passageiro

Todo mundo grita e todo mundo chora
Chora aqui, lá e acolá toda gente,
Vale todo choro? O que importa agora,
É que cada um chora a dor que sente.

E Fênix voa seu voo indiferente
A dor de toda gente!!!

MAReis

Sabor



Sabor

Temperei com pimenta,
Do reino,
O meu reino!

Espremi limão cravo,
No cravo,
Encravado em mim!

Esparramei hortelã,
P’ra botar gosto,
Em todo desgosto!

Salpiquei de sal,
P'ra reforçar de sabor,
O insosso da língua!

Adicionei uma pitada
De azeite na boca
Do tempo dividido!

Sempre um pingo mel
Pr’a encher de doce,
A vida inteira!!!

MAReis

Outra Vez, Insônia



Outra Vez, Insônia

O silêncio sufoca
A noite inteira.
E no ponteiro
A hora requenta
Pensamentos empoeirados,
Retemperando-os no tempo,
Na ânsia,
No lamento,
Na espera
De que o sol invada
A janela aberta
Do meu sono cardíaco!!!!

MAReis

Uma Praça em Piracicaba



Uma Praça em Piracicaba
Essa garoa
À toa, tão à toa
Em mim,
Mete vermelho
Nos meus olhos
E nos galhos da acerola.
Essa garoa
À toa, tão à toa
Em mim,
Alarga-se no coração,
Na sombra da mangueira,
E suas tantas vozes.
Essa garoa
À toa, tão à toa
Em mim,
Enche de gargalhadas,
O branco no banco
Daquela nossa praça.
Essa garoa
À toa, tão à toa
Em mim,
Molha o tempo,
Molha a praça
Enfeita o nome
Meu irmão.
Essa garoa
À toa, tão à toa
Em mim,
Devagar, divagando
Em cada pingo
Essa saudade!!!
MAReis

Outro Quadro



Outro Quadro
Na ebulição das minhas lembranças, 
Nos rostos desenhados nas danças,
Do vapor sinuoso e errante das memórias 
Também nos mitos que se fizeram histórias,
Levantam-se, no crepitar das chamas, 
Sob o ferro do caldeirão fervente,
Aquele misto de aromas diferentes,
Exalados dos cafezais e suas ramas.
MAReis

Por um Instante



Por um instante!!!
No batente da porta,
O prego espreita a rua,
Na agonia da espera,
Daquela mão estendida, 
Na chegada e na saída.
Por onde anda aquele
Panamá marrom?
MAReis



Não construa angústias,
À frente do espelho.
Não se leia nas rugas
Que lhe contornam os olhos.
Nem nos fios brancos,
Que lhe adornam a cabeça.
O que se vive junto,
Não se faz
No que se mostra,
Mas no que se revela
Na vida que se renova.
Só os olhos de quem ama,
São capazes de ver
Além do que é espelho.
Só os olhos de quem ama,
São capazes de revelar
O que está em nós.
O que valem são os sorrisos 
Que nos enfeitam a boca,
O que valem são as mãos 
Que nos tocam
E os olhos que nos veem.
Só os olhos de quem ama,
São capazes de ver 
O que não é espelho!!!
MAReis

Hoje, Oriente



Hoje, Oriente
Descem a ladeira da vida, 
Sem rumo e tão sentidas,
Tão arrastadas, tão presas,
Tão minhas estas tristezas.
Parte de mim, que sem trauma,
Há tempo habitam minha alma. 
Cruzeiro do sul do meu destino,
Luzes dos meus dias de menino.
São elas frutos dos tempos vividos.
Nos rios, nas ruas de minha infância,
Marcas de alegrias e risos perdidos,
Nos amigos apartados na distância.
Veladas e amadas em quem as sentem,
Deusas guardiãs destas ingênuas artes,
Esculpidas nas imagens desta Oriente, 
Tão pequena, tão gigante em saudades!
MAReis

No Quarto de Despejo



Repousa a bola furada,
O pião sem cordel,
O tabuleiro incompleto,
O estilingue quebrado.
Nas lembranças empilhadas,
Na caixa amarelada,
Dormem as cartas de amor,
Em letras desenhadas.
Na prateleira empoeirada,
Os primeiros romances,
Os primeiros versos,
Os ideais perdidos.
E encostado à parede,
O nariz vermelho
Sobre o riso alargado,
Da boca do palhaço,
Finge alegria.
Sei que vivo e
O quarto alarga-se no tempo.
MAReis

Instante



Instante
Se toda cura está no tempo,
Que cada tempo
Seja instante,
No tempo do outro.
Se toda dor tem 
O tempo de ser, 
Pois que seja o tempo guia
De todo olhar perdido na dor.
Que todo sorriso doado,
Encontre no tempo
A palavra amiga
Na voz que o tempo tem.
E no silêncio da voz, 
O tempo desperte,
O abraço amigo
No tempo e a dor seja vencida!!!
MAReis

Há 50 anos



Há cinquenta anos.
Que as flores, 
Proclamem a Liberdade
Reflorestem as ruas, 
Sejam mensageiras 
Do meu destino!!
MAReis

O Tempo e a Distância



O Tempo e a Distância
Existem dois tipos de saudades.
Aquelas que matamos,
E aquelas que nos matam.
As primeiras, mediadas pelas distâncias,
Sazonais, 
Morrem nos abraços dos reencontros.
As segundas, mediadas pela vida,
Perenes,
Plantadas e colhidas no tempo,
Vivas e eternas em nós!!
MAReis