sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Tempo de Ir



Não ando por São Paulo, São Paulo é que anda em mim.


 Tempo de Ir


Quero de volta

O tambor de lata, o cordel, meu pião,

O carretel, minha pipa, chinelo e meu calção de brim.

As fogueiras de São Pedro, Santo Antonio e São João,

Aqueles bancos, minha praça  e os pentes de marfim.

Uma bola de capotão, grito, xingo e o  som do apito,

A Paredão,  a quermesse, tanta gente e tanto agito.



Quero de volta

As cruzadas, guerras de cana de milho,

As fisgas, os anzóis, as iscas de capim.

Olhar o trem desaparecer no trilho,

Correr na chuva, nadar na poça d’água,

Ouvir histórias de meia-noite e dos serafins,

Aquele medo do escuro e de ser só,

O alto da figueira e o balanço do cipó.



Quero de volta

Afundar meus pés no barro,

As toalhas alvejadas  do varal de minha avó.

Pé-na-lata, pique e água dos jarros,

Galopar no meu cavalo imaginário,

No caderno rabiscar o meu cenário,

As figurinhas, o bate-bafo e escravos-de-jó.



Quero de volta

Comer goiaba bichada, manga na mangueira,

Laranja no pomar alheio, escalar jabuticabeira,

Andar descalço pelos campos verdes

Fazer balanço no galho da paineira,

Laçar mourão de cerca e escalar paredes.



Quero de volta

Sentar-me a beira das estradas,

A tradução dos redemoinhos de vento,

As histórias em sonhos inventadas.

Nas mãos, guardar aquele momento,

Minha mochila, meu boné, meu adeus.

Meus segredos e um pouco dos seus.



No meu tempo  ....  de ir!!!

MAReis


sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A Flor do Mandacaru



A Flor do Mandacaru

 De lá de onde eu vim,
Meu camarada, meu irmão!
Se a água não rega o sertão,
A flor mais bela do jardim,
Não é rosa, nem flor de caruru,
É a flor branca do mandacaru.

Meu camarada, meu irmão
Fique atento, preste atenção!
Veja lá!
De lá de onde eu vim,
O mandacaru não dá sombra,
Nem encosto para ninguém
Põe fruto no bico currupião,
Só quando bem lhe convém
Tornar verde os olhos do sertão.

De lá de onde eu vim,
A flor do mandacaru
É amor passageiro
Vai como vem,
Fica só um pouquinho,
Chega de manhã,
Dá adeus e chega ao fim.

O Mandacaru, meu irmão,
Não tem folhas é só espinhos.
Enquanto a chuva não vem,
Alimenta boi bravo no sertão,
É porto seguro dos ninhos,
São olhos verdes que o sertão contém!!!!

MAReis

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Minas Gerais




Minas Gerais

Minas
Está na cor, no cheiro e no sabor de terra
No laço, na luz do sol e no brilho do ferro,
Na melodia e na cantiga ninada da serra,
No boi, no arreio, no berrante e no berro.

Minas
Está no cheiro do mato
No café no coador de pano
No sertanejo e seu recato
Nas asas e no bico do tucano.

Minas
Está na viola e no clube da esquina
Na congada e na festa do divino,
Nas igrejas de Mariana e Ouro Preto,
Nas vozes dos corais e seus coretos.

Minas
Está na cidra e na laranja cristalizada,
No pé-de-moleque e na cocada de Piranguinho,
No leitão à pururuca, no tutu e goiabada,
No pão de queijo, na cachaça, em Aleijadinho.

Minas
Está na água do campo, e na mata verde,
Na mandioca, no curau e no doce de leite,
Na sombra do ipê, no abraço e nos enfeites,
No alcance do olhar e no balanço da rede.

Minas
Está no fumo de corda e no licor de milho,
No resumo do tempo, no alento e no encurtar da fala,
No cavalo, no seu galope e no estribilho,  
Na calçada, no papo na mesa do bar e no oratório da sala.

Minas
Está nas prosas, e nos causos de Guimarães,
Nas flores das saias, das cortinas e das janelas,
Nas veredas, nos sertões, no cravo e na canela,
Nos dengos das meninas e no cuidar de suas mães.

Minas
Dos versos, da saudade, de Drummond e das poesias,
Da casa branca, do monte, do ceu, do gemer do vento,
Do cruzeiro do sul, do cantar do galo, deste momento.
Desta gente; bem aqui, hoje, no espírito, sempre, todo dia!!!

MAReis