segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Estrangeiro em Mim

Estrangeiro em mim

Sou um estrangeiro 
Em mim mesmo.
Não me traduzo mais,
Falta-me  língua
Para interpretar-me.

No tecido da minha vida 
As manchas do vinho,
Tingem de tinto os olhos. 
E as mãos imóveis apoiam
A cabeça e o peso da vida.

A transparência da taça 
Adormece no silêncio do só.
E o relógio vai engolindo 
A madrugada imensa, 
Na finitude do tempo.

Os pensamentos, tão cansados 
De existirem, reinventam-se,
Mas já não têm forças para ir.
Eu, então, levanto a bandeira
Branca da minha paz!!

MAReis

Assim, Saudade

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Terça Gorda



Terça Gorda

Na cidade, no  coração da praça, o pandeiro e o tambor
Encontraram-se com a cuíca, o tamborim e o reco-reco.
E abraçaram a terça gorda num papo afinado de boteco.
Cantaram à vida, ao samba, à rosa, ao espinho e à flor.

A cidade que dormia, abriu os ouvidos ao som da praça,
De repente, chegou toda em dourado, uma enorme taça,
Uma bailarina azul celeste, a enfermeira toda de branco,
O bêbado, Peter Pan, Sininho, um Arlequim em prantos.

Veio também, o ladrão e o delegado, o pastor e o padre,
Todos os políticos à direita e à esquerda de mãos dadas,
Como hipnotizadas pelo som e luz da praça, alucinadas,
Apareceram borboletas, abelhas, joaninhas e uma madre.

Patos, ratos e gatos da Disney, em respeito ao tamborim,
Guiados por Pan, pularam os muros e invadiram a praça,
E a cuíca gritou a toda gente que abrisse a roda à mulata,
À ginga que veio da África e para aquela alegria sem fim.

E assim foi à tarde e à noite inteira, até à alta madrugada,
Quando o badalar dos sinos da matriz avisou ao pandeiro
O fim da festa, as cinzas nasciam nas lâmpadas apagadas,
E a cidade retornou ao sono no verde das serras, fatigada!

MAReis

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Estação da Luz em Mim.



Estação da Luz em Mim

Quando o trem apita na Estação da Luz,
O coração bate forte, sacoleja e me traduz.
E São Paulo aparece na velocidade da janela,
E o mais que pretérito renasce a margem dela.

Uma cidade sem reboco à beira da linha,
Cheia de lembranças e saudades minhas.
E quando meu destino me pede que apeie,
Minha boca range antes que o trem freie.

Meus olhos choram a curva engolir o trem.
O peito dói martelando saudades de outrem.
Minha alma, onde se esconde toda dor em mim,
Leva-a o trem! Ela e estas lembranças sem fim.

Na Luz, o tempo corre por duas linhas paralelas,
Meu nome e teu endereço. Memórias apenas?
Vozes e sonhos escritos em páginas amarelas?
Por que agora, se antes foram tão pequenas?

E o trem vai perdendo o rumo,
Rumo a um ponto final ...