domingo, 27 de março de 2016

A Marcha



A Marcha

Quantos segredos nos olham
Pelas janelas redescobertas.
Quantas sombras nos vigiam
Pelas vitrines entreabertas.

Quantos medos nos espiam
Nossos passos pelo caminho.
Quantos olhos nos abordam
Por trás de um  copo de vinho.

Quantos desejos nos convidam
Para as camas e para o cansaço.
Quantos olhares nos denunciam
Os muros e seus portões de aço.

E lá no alto do mais alto edifício
A flor solitária acena como artista,
Cumprindo, intimidada, seu ofício
De enfeitar a vida e de ser vista!

MAReis

quarta-feira, 16 de março de 2016

Ódio ao Ódio



Ódio ao Ódio

O ódio violenta a rua,
Dos becos e das bocas,
Uivam as palavras ocas,
No doido sentido da Lua.

E todo horror se mostra belo,
E sob as máscaras anêmicas,
Exala o odor da ira sistêmica,
Na loucura e no riso acéfalo.

E dos brados loucos e doentes,
Brotam como germes da oratória,
Os pastores dos ecos impotentes,
Predadores da vida e da memória.

Pode o tempo matar a História,
Aqueles sonhos, nossos mártires,
Aquela certeza, a nossa vitória,
Aquele futuro, os nossos líderes?

Respira! O que está além do umbigo
Resiste! No peito e no coração, amigo!

MAReis

segunda-feira, 7 de março de 2016

São Paulo a Garoar



Hoje, São Paulo
Anda um que diferente,
Nos olhos.
Um que de nostálgica
Na alma.
Vai brincando de molhar 
Meus passos pelos espaços
Por onde passo.
 
Hoje, São Paulo
Escondeu o sol
No peito calado
Do dia.
E um saudosismo
À toa, sem tamanho,
Sem sentido, saltou-se
Ao ceu da minha boca.

Hoje, São Paulo,
Avessa à monotonia,
Pois-se a garoar,
E esta garoa, garoando
Na gente, é uma hipótese,
Uma ausência indistinta,
No território do meu peito.

Hoje, São Paulo
Amante de si mesma,
Navega no rio aberto
Do tempo da vida inteira,
E na distância, a gente
Por inteiro torna-se fonte,
Fonte de saudade.

E hoje, São Paulo
Vai garoando,
No meu coração,
Em minhas mãos.
E como por encanto,
Por todo canto nessa
Melodia desajustada
Do meu canto!
 
Ufa!!! E esta cidade a garoar ...

MAReis