quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Existir de Novo

Querer-te, quis,
E de tanto te querer
Deixei de ser.
E agora só sei
Existir em ti.

E ficou no corpo o suor,
Gota de orvalho perdida
Sob a pétala de uma flor.
Como a lágrima retida.

E neste não existir,
Resta-me este tremor 
No canto da boca
Quando morrem
As palavras de amor.

Estes meus lamentos
Vêm como os ventos,
São como as flores
Deixando seus odores
Nos vasos finos em que
Pensas vão morrendo.

E no calor destas memórias, 
Deste amor e de sua história,
Preciso reinventar no tempo.
Gerar no sopro do vento,
O que fui  e como existi

 Além, longe e fora de ti!!!


MAReis

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Neste Quintal em Mim!

Neste Quintal em Mim!

Voltei a passear pelo meu quintal,
Fui-me para vida como vendaval.
Na doçura da manga colhida no pé,
Cafeinado no doce amargo do café.
Abri meus olhos para alturas das palmeiras,
Os Ouvidos ao cantar dos sabiás laranjeiras.

Tem laranja
Tem limão
Tem limonada,
Jabuticaba, abacaxi.
Moranga e maxixe.
Lembranças de montão,
Abacate, doce de abóbora,
Gente que já se foi embora.
Carne de sol e lima no pomar,
Uma vontade imensa de gritar.

Tem toucinho no tacho,
Vozes que já não acho,
Pimenta vermelha e malagueta,
Carambola e gente muita azeda,
Sardinha fresca e manjuba salgada,
Adeus no romper da madrugada.
Tem cachimbo, fumo de corda,
Tem quem diz que faz e que borda.

Tem panela de barro, guisado,
Tem jiló, quiabo, milho cozido,
Curau e amor achado e perdido.
Cuscuz, ralador, queijo e pamonha,
Erros e ainda um bocado de vergonha.
Tem garapa e cana caiana,
Melaço, açúcar e rapadura,
Tem vida mole e vida dura.

Tem costela de boi
O tempo que se foi
Polenta frita,
Frango caipira,
Leitão à pururuca,
E esta alma aflita.
Meu primeiro amor,
Mandioca bem cozida,
Manhã fria e dia de calor,
Tristeza na despedida.
Tem pipoca e paçoca,
Final de tarde e muriçoca.

Tem borra no coador
Café torrado, e muita dor
Jaca, bule de chá cidreira,
Vontade de ir e vontade de ficar
Esta coisa sem eira nem beira.
Cajá, manga, colar de miçanga,
Água na moringa, suco de pitanga.

Tem mugido de boi bravo,
Mel de jataí e vaca leiteira,
Ferradura, fechadura e cravo,
Capim santo e benzedeira
Conversa fiada e brasa no fogão,
Pão de casa, manteiga e perdão.
Tem banana nanica, prata, maçã,
São Tomé, da terra, minha irmã
Tem São Pedro, João, balão,
E tantos pedidos em vão.

Tem desconfiança no miado do gato,
Latido de cão, truco e jogo de dado,
Orelha, pé e couro de porco no feijão.
Tem canjica, macarrão e manjericão,
Piada, pião de roda e pião de fé,
Pescaria e pirão de piramboia,
Palavra de honra na xícara de café.
Para quentão, para esquentar a boia
Forno de barro e colher de pau,
Tem sonho bom e sonho mau.

Cinza, carvão e fogueira no chão
Cuscuz, tapioca, lamparina e lampião,
Broto de bambu, melão e melancia,
Roda de viola, violeiro e boia fria.
Música sertaneja e bolinho de chuva,
Muita saudade na estrada em curva,
Terreiro, varanda, ipê roxo e terreirão,
Cheiro de relva, orvalho na grama, 
No telhado, nos olhos de quem ama,
No tempo, na vida, hoje e no coração.

Tem minhoca, linha de náilon
Arrasta pé, sanfona, sins e nãos.
Anzol, brejo, taboa e tabual,
Tem gente do bem e do mal,
Tem estrela Dalva no azul do ceu,
Samburá, fritura, contos de cordel

Medo, crença, muito segredo
Uma história para cada dedo.
Tem saci, erva de santa Maria,
Mula-sem-cabeça, ave Maria!
Histórias de assombração no quintal,
Poeira, vento, ventania e vendaval
Coco, linguiça pendurada no varal.
Tela, balaustra a horta e o jardim,
Cruz, encruzilhada e pé de alecrim.
E todas essas lembranças de mim.

Tem goiabada, marmelada, pessegada,
Tem trevo de quatro pontas, pedregulho
Esparramado pelo chão, tem o orgulho
Na calça de brim, no chapéu de palha,
Na bota de couro e no que não se fala.
Fivela, cinta e fivelão
Chicote, arreio, espora,
Meu mundo, meu alazão

Tem domingo o dia inteiro,
Rádio de pilha, trova e trovão,
Goteira no celeiro e calo na mão,
Lua e estrela no giro ponteiro,
Os momentos de raiva, a caça,
O meu cachorro perdigueiro,
Maritacas, e um gole de cachaça!!!!

MAReis


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Pois, Agora!

Pois, Agora!

Portanto, não se percebe que a distância
Entre o tempo da chegada e da partida
É tão pequena, e nada há além da ânsia,
Da conquista, busca alucinada pela vida.

E na vida que se busca, o hoje se perde
No amanhã que se alonga para o depois.
Estranha lógica que pede o que já é tarde,
Ah! Dúvida do que foste e de quem sois.

Logo, o corpo lembra que o futuro findou,
Então, no reverso do até agora, inventamos
Um jeito alucinado para viver o hoje, ou
Uma nostalgia para viver o que já passamos.

Pois, no hoje passado do que já foi futuro,
Nesta lei paradoxal de quem vive, fica e dói,
A sensação do não vivido perdido no escuro,
Nas lembranças, nas saudades como anzóis!!!


MAReis

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Fugacidade!!!

Fugacidade!!

Tivesse uma vida a mais,

Ressignificar-me-ia,
Sentir-me ia mais,
Amar-me-ia mais,
Simplificar-me-ia.

Tivesse um ano a mais,

Ocultar-me-ia menos,
Revoltar-me ia menos,
Ampliar-me-ia menos,
Traduzir-me-ia menos.

Tivesse um dia a mais,

Recomeçar-me-ia,
Reencontrar-me-ia,
Aceitar-me-ia,
Emudecer-me-ia,
Ouvir-me-ia mais.

Tivesse uma hora a mais,

Buscar-me-ia,
Realizar-me-ia,
Abraçar-me-ia,
Agradecer-me-ia.

Tivesse um minuto a mais.

Sorriria para vida,
Cantaria para amor,
Ouviria a brisa,
Olharia o Ceu.

Tivesse um segundo a mais,

Adeus!!!


MAReis

Onde?

Onde?

Por onde andam

Aqueles sonhos,
Aquelas ideias,
Aquelas palavras,
Aquelas verdades,
Aquele grito de guerra?

Por onde andam

Aqueles cantos e aqueles espaços,
Aquelas vozes e aqueles caminhos,
Aqueles risos e aqueles abraços,
Aqueles gestos e aqueles carinhos?

Por onde andam

Aquela crença e aquelas verdades,
Aquela certeza e aquelas esperanças,
Aquela história e aquelas liberdades,
Aquela sina e aquelas lembranças?

Por onde andamos

Nesta garoa que vai fechando o ano,
No todo sagrado e no todo profano,
Alheios à mudez infértil do mundo,
Nesta rota rumo ao poço sem fundo?

Por onde andamos

Neste frio que nos cobre a pele,
Neste estilhaçar de copos vazios,
Neste silêncio que nos impele
À esterilidade louca dos cios?

Por onde andamos?
Em que andamos?
Por que andamos?
Para onde andamos?

Não me deixe ir só!!!
MAReis