terça-feira, 13 de setembro de 2022

ESTA GAROA DE AGOSTO

 Esta garoa.

De agosto, 

Tem gosto,

Do vir aberto,

Do ir incerto,

Tem gosto,

Tem cheiro 

De poeira 

Além da vidraça.


Esta garoa

Vaga, 

Pela rosa, 

Pela mente,

Vagarosamente

Pelos olhos,

Pelos sentidos,

Ausentes 

Em mim.


Esta garoa

Em cada folha

Caída ao peso

Da gota 

Esgota-se

Na amplitude, 

Do chão, se dilui. 

E se perde na dor

Da terra seca.


Esta garoa,

De agosto vem

E como vem, vai, 

Célere assim. 

Evaporada,

Apressada

Para Céu, 

Fica, a prece doída.


Esta garoa de agosto,

Louca, este desvario.

Doida que insiste

Como rio que corre

Em mim, e eu?

..............................

Rio de mim mesmo!


CRONOS!

 

Cronos

 

Há um tempo nada

Infinito;

Inexistente;

Estático,

Anacrônico.

 

Há um tempo alado;

Flutuante e deslizante;

Pipa sem linha;

Vai além;

Soma e segue.

 

Há um tempo pele;

Oscilante na boca,

Exposto nos olhos;

Errante no peito;

Apenas sentidos.

 

Há um tempo abrigo;

Silencioso;

Contido;

Refletido;

Intimista.

 

Há um tempo oculto

Em nós,

No outro,

Medroso; incerto,

Acumulado, acuado.

 

Há um tempo sem tempo

Tempo de espera,

De quase oração,

Tímido; saudoso;

Sincrônico; resignado.

 

Há um tempo arquiteto

Operário,

Construtor;

Autoritário;

Finito!

terça-feira, 19 de julho de 2022

 Naquela Praça,

Bem lá no alto da torre, o coração ecoa,

Os sonhos em prece que a Mãe abençoa,

Sagrados, cheio de paz, quase celestiais,

Vivas teias de imagens que não se desfaz.

 

E no verde ziguezague daqueles canteiros,

Onde alamedas abrem-se como passarelas,

Ainda se ouve a melodia de um seresteiro,

Luz, Cruzeiro do Sul no infinito de estrelas.

 

E na memória iluminada por esta obra prima,

Esculpida pelo Divino com o cinzel do tempo,

Painel na alma e nos olhos de quem imagina,

Ouvem-se as vozes vivas daqueles momentos.

 

E na praça, hoje, outros sonhos sobem ao Céu,

Novas vozes, novas histórias e em outras cores,

Novamente, a Santa Mãe os acolhe no azul do véu,

Obra prima que se alarga semeando outras flores.

 

 E esse vento que açoita a minha vida e agita a janela

Do passado, traz da praça estas memórias distantes,

Este cenário de saudades, cheio daqueles instantes.

Rostos, palavras, risos e abraços que já não há nela.!!