segunda-feira, 17 de março de 2014

A Criança Perdida na Rua

A Criança Perdida na Rua

O político viu dinheiro.
Planejou investimento.
O padre, ovelha desgarrada,
Pensou em Deus e rezou.

O professor viu aluno,
Pensou no futuro e protestou.
O motorista, bandido,
Pensou na polícia.

O terno lustroso viu vagabundo,
Pensou em trabalho.
O pedófilo, oportunidade,
Excitou-se.

O traficante viu consumidor,
Pensou em negócio.
O reacionário, ladrão
Pensou na morte.

O advogado viu lei,
Culpou o Estado.
O poeta, poema
Inspirou-se.

A criança não viu
O protesto do professor,
A reza do padre,
O dinheiro do político,
A excitação do pedófilo,
O interesse do traficante,
O desejo de morte do reacionário,

A criança perdida na rua,
Tão pouco se sentiu poema.
Os olhos eram as vitrines das confeitarias,
As narinas os cheiros dos temperos,
Os ouvidos os talheres do meio dia,
A língua, talvez uma prece,
As mãos, o alívio do estômago vazio.

Alheia aos pensamentos que inspirou,
Esperou pacientemente,
O resto dos excessos!!!


MAReis

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