segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A Criança Perdida na Rua



A Criança Perdida na Rua
O político viu dinheiro. 
Planejou investimento.
O padre, ovelha desgarrada,
Pensou em Deus e rezou.
O professor viu aluno, 
Pensou no futuro e protestou.
O motorista, bandido, 
Pensou na polícia.
O terno lustroso viu vagabundo, 
Pensou em trabalho.
O pedófilo, oportunidade, 
Excitou-se.
O traficante viu consumidor,
Pensou em negócio.
O reacionário, ladrão
Pensou na morte.
O advogado viu lei,
Culpou o Estado.
O poeta, poema
Inspirou-se.
A criança não viu
O protesto do professor,
A reza do padre,
O dinheiro do político,
A excitação do pedófilo,
O interesse do traficante,
O desejo de morte do reacionário,
A criança perdida na rua, 
Tão pouco se sentiu poema.
Os olhos eram as vitrines das confeitarias,
As narinas os cheiros dos temperos,
Os ouvidos os talheres do meio dia,
A língua, talvez uma prece,
As mãos, o alívio do estômago vazio.
Alheia aos pensamentos que inspirou,
Esperou pacientemente, 
O resto dos excessos!!!
MAReis

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