quarta-feira, 29 de junho de 2011

Cafezais 4

Maria Aparecida


Minha irmã. Primogênita. Quis ser feliz! Foi?
Tanto em uma só, tão contrária em si mesma, genuinamente pessoa e fera. “Dente por dente, olho por olho”. Idealizou, frustrou-se. Teve sonhos, perdeu-se em pesadelos. Amou demais, sufocou-se. Colocou tanta gente no coração, que lhe faltou coração para viver.
Escreveu na borra do café de todas manhãs que era flor de todas floradas e que fora fecundada por pólen carregado na pata de um zangão. Seu grito, seus gestos, suas fúrias e seus medos continuam presos na atmosfera densa do seu nome, Maria. Inventou um mundo tão perfeito, acreditou que era real, mergulhou tão profundamente nele e nele escreveu uma história que não se coube.
Foi se perdendo na fumaça espessa do alcatrão que traga a vida, num adeus lento, redesenhando o tamanho do sorriso e, como um casulo que se arrebenta, fez-se borboleta azul, prolongou-se em seus filhos, e voou para alto, tão alto que se confundiu com o azul do céu. Ficou um quadro na parede. Maria correndo pelo cafezal, equilibrando a xícara de café para carregar de amargo a boca de meu pai. Vai essa imagem viajando comigo pelo tempo em que se vive e já não é apenas minha. Maria não se esgota em Maria, continua mariando outras histórias. Maria planou além dos cafezais, foi um planar tumultuoso e curto, mas valeu a pena, Maria Aparecida um dia me apareceu com o mar nas mãos. Como é lindo o mar que Maria me mostrou. Quis conhecê-lo. Conheci, Maria.    

MAReis

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