terça-feira, 21 de junho de 2011

Série Cafezais 2

Seu Mário
Meu pai. Na pele a cor crônica dos plantadores de café.  Na boca e no bolso, café! Envelheceu na capina dos cafezais, no enleiramento dos cafezais, na colheita dos cafezais, na esparrama dos cafezais e na espera da nova florada deles, os cafezais! Café pela manhã, no almoço e no jantar. É dele que vem este meu desajuste no trato com a vida. É dele que vem esta minha ansiedade, esta pressa sem sentido, esta deselegância para com amigos e para com as mulheres. É dele, no entanto, que vem este gosto incontrolável pelo risco e pela crença de que vale um pé a mais. É dele que vem esta minha parceria com a natureza, esta veneração pelo pelos rios e pela mata virgem. É dele que herdei esta facilidade em ler o céu, antever a chuva e a seca. É dele que veio esta maneira estúpida de amar calado, intimidado e para sempre. É dele que me veio esta falta de medo e esta falta de traquejo com o belo, este ateísmo confuso e esta submissão servil. Assim aprendi a amar meu pai. Amar seus discursos monossilábicos, suas repreensões guturais, suas ordens assoviadas, seus gestos comedidos para mostrar o que e como fazer, sua perseverança. Não conhecia o verbo amar, mas era a tradução mais rudimentar e sincera de amor. Sou eu quem carrega no nome o seu nome. O café insiste em me engolir eu insisto em bebê-lo. Doze filhos, doze formas diferentes de dizer te amo! Meu pai volta nesta história, porque esta história é como café, mata, mas dá prazer!     


MAReis

Um comentário:

  1. Um homem que fez história, talvez não em gestos de puro amor e cumplicidade com seus filhos, mas a sua maneira tentou cria-los para dar e ganhar respeito em um mundo maior do que o vivido por ele.
    Sinto falta até de suas broncas, como isso é possível?
    André Luiz

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