segunda-feira, 11 de julho de 2011

Cafezais 8


Ari
A força da terra. Nasceu e viveu café. Carregou nas palmas das mãos a imagem de todos nós, projeção iluminada de pai e do pai. No anagrama de seu nome encontrei o primeiro enigma do sentir-se além do café. Luta! Fez-se grande, experimentou de todos os sabores da alma e da terra. Simplificou o tempo no sorriso aberto, no soco alucinado, no choro largo, no abraço que não é apenas abraço, mas uma declaração de amor. Prendeu-se e se perdeu na bipolaridade de todas as coisas.  Amou tanto os outros que se esqueceu de amar a si próprio. Ari não nasceu para o agora, nasceu como terra, nasceu como o aroma que transcende dos cafezais, como os sabiás laranjeiras, como as chuvas de verão, nasceu para ser vida em abundância na essência do hoje e para o sempre da memória. Ari sonhou com um mundo perfeito, pensou que suas mãos fossem grandes o bastante, para embaixo delas, como asas de aves em luta pela descendência, agasalhar a todos nós. Cultivou uma espécie diferente de amor cuja tradução só se tem nas sombras dos cafezais e no sabor das refeições requentadas pelo calor do sol. Uma oração fervorosa, um horizonte de final de tarde no campo, uma orquestra de sons enigmáticos que saúdam uma nova madrugada. Ari foi algo tão forte no falar, no agir, no querer, no amar, no sonhar, mas tinha no coração a fragilidade dos cristais dos banquetes reais. Veio como as tempestades que marcam tudo e todos e de repente como se cansasse tudo, pediu licença, selou o famoso cavalo alado, e galopou para o infinito, deixando marcado no chão de todos os cafezais os seus passos, a sua voz e seu grito de independência. Ele volta para continuar esta história, porque a história dele faz parte da história de todos nós. Até já, Ari.   

MAReis   

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