terça-feira, 12 de julho de 2011

Série Cafezais 11

 Marta (Nega)

Um turbilhão de mistérios a serem desvendados. O riso largo. Na pele, as cores de todos nós. Há uma África que se abriga em Marta, mais viva, mais cheia de luz, escudo das guerreiras tribais, força que nasce e renasce em cada xícara de café e esmaga a arrogância de Medeia, ameaçadora de todos os sonhos. Traz nos olhos os sustos apaziguados pela reza e pela fé. Mágoas colhidas na solidão das revoltas. Tem o brilho dos cafezais nas manhãs de inverno. Nas mãos todos os sabores, receitas de vida colhidas no tempo e nas lutas. Antítese em si mesma, paz e explosão, medo e coragem, amor e raiva. Antagonismo de sentimentos, tão díspares, peculiaridade de uma natureza em ebulição. Tem a pressa das codornas que habitam os milharais após as colheitas. A delicadeza das floradas dos cafezais. A persistência das abelhas fazedoras de mel. No sangue pulsa a instintiva defesa das crias e, como os quero-queros, afasta-se do ninho e insulta os predadores com piares ameaçadores. Que dores ainda habitam o céu de Nega? Que esperanças ainda gravitam pelos dias de Nega? Páginas de um livro escritas na imensidão do só, inspiradas na crença de que além das mágoas impressas nas fotografias espalhadas pelas paredes e trancadas nos álbuns de memórias, há uma outra história a ser contada. História aberta à alegria de conviver consigo mesma, sem o medo de revelar-se na grandeza de seus gestos e ideais, livre de todos e de tudo que lhe aniquilam o direito de ser livre e enxergar a vida, não pelos olhos do gavião faminto de presa indefesa, mas pelos olhos da andorinha em emigração. Planar outros céus, conhecer outros mares, caminhar por outros caminhos e, no sorriso que acolhe e recolhe, acolher outros risos e colher novos sonhos. Nega é assim, pimenta que tempera nossa vida e enche de aroma nossa história. Marta Terezinha conquistou, muito além das sombras dos cafezais, a liberdade de reconstruir o vôo da Fênix. É alecrim em festa de primavera, é parte do todo de nossa história. Volta, as andorinhas sempre voltam. Melhor, elas chegam em revoada, enchendo de vida o céu de todos nós.      

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