quarta-feira, 13 de julho de 2011

Série Cafezais 14

André

A pressa, a impaciência e a vontade embalada pela celeridade de todos os cantos da natureza. Vertigem colhida nos ventos alucinados que cortam o verde dos cafezais. Nos gestos e nos risos há a imposição dolorida de sonhos podados pelo tempo e pela vida. Aprendeu a libertar o grito, a esticar a ira e cultivar no ventre mágoas brotadas nas fontes dos discursos mal digeridos. Do canto do sabiá, da impetuosidade dos cavalos por domar, da astúcia da coruja na proteção da espécie, da impaciência das crias famintas, da impulsividade dos estouros de boiadas em estradas de chão batido arrancou a matéria prima com a qual alimentou alma e ladrilhou as relações com o antes e o depois. Nas páginas de tantas histórias e de todas as histórias, vai construindo um novo mosaico, protetor de novas crenças, de novos projetos e de novas esperanças. E neste caminho que encanta, onde o velho e o novo se tocam, renasce a certeza de se sentir vivo ainda que a pele exale o aroma impregnado de café. Imaginou o som das platéias decoradoras dos grandes espetáculos no delírio contagiante do gol. Dominou a bola, ou melhor, a bola o dominou. Na velocidade de sonhos impregnados de lembranças vagas, vai domesticando dores e raivas na fumaça difusa do alcatrão. Espécie de felino camuflado para o próximo bote. Rebelião em si mesmo, gestos incontidos, impulsivos, discursivos, conjunto de ecos tradutores de vozes perdidas nas distâncias das palavras não ditas ou mal ditas. Construtor de novos horizontes, de novos espaços onde dançam, ao som de todos os sons, as imagens reveladoras de histórias tecidas em fios de seda desvelados dos casulos abandonados pelas lagartas refeitas em borboletas. Vôo guiado pelo radar dos pássaros notívagos, em busca da última semente, mãe de uma espécie em extinção.  Vai! André, carregando um punhado de contos, de poesias inacabadas e de heróis desmentidos. Vai! André, amarrando sua história a outras histórias, empurrando na vida um feixe de fatos e mitos e entre tantas histórias, talvez esteja a minha, as de todos nós, com certeza.  É a folha mais verde que no outono de todas as árvores vai desprendendo-se para alçar o vôo de liberdade impulsionada pela brisa vida, vivida e por viver.

MAReis

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