quarta-feira, 13 de julho de 2011

Série Cafezais 12

Fátima (Filó)

Flor da terra. Doação de vida e de fé.  Com as cores de todas as esperanças, inspirada pela serenidade dos Ipês amarelos, artista da terra onde transita outras vidas e vai enchendo o hoje com os projetos de amanhã. Na alma, o sopro de todas as manhãs, na pele, a leveza do algodão acoitado pela brisa, no olhar, a natureza das lagoas ao entardecer, espelho onde o infinito azul do céu se revela. Sol em sua grandeza narcisista, cuja vida duplica-se numa explosão de ouro e de luz. Amor na infinidade do ser filha, mãe e irmã, que vai muito além de si mesma.  Uma liberdade que se traduz no vôo das aves em corrente de ar quente. Filó não veio só, veio com a misteriosa bondade dos felinos domesticados. Trouxe uma paz moldada no silêncio dos cafezais sob a luminosidade tênue dos finais de domingo. Trouxe o coração fora do peito. Um coração que pulsa nas mãos, nos gestos, nas palavras, no olhar e no sorriso tímido. Filó tem, como as campainhas campestres, a simplicidade harmoniosa de tudo que enfeita a vida e ornamenta os sonhos. Vibra ao seu redor a energia que nos faz mais humanos, menos doidos, mais essência e menos veneno. Não se sabe se Filó é borboleta que enfeita flor ou flor que enfeita borboleta.  E sob as mágoas ressecadas, constrói uma história de dores camufladas e, como as folhas dos outonos que desprendem dos galhos atendendo ao destino de sua natureza, aparta-se das asas que lhe sustentam os sonhos, para repartir consigo a dor que nasceu da ira do outro. Tem devoção no nome, vida de devoção, tempo de devoção que transcende o que se vê e o que se crê que pode ser. Que esperanças sustentam esta natureza tão singularmente serena? Que sentimentos ocultos sustentam lhe a crença no outro? Que café é este que lhe emudeceu as raivas, destruiu-lhe a dor que exige explosão de voz e de gestos? Que medos estão sublimados no ventre e na garganta?  Uma história feita de histórias tão diversas, tão genuínas, tão impregnadas de hábitos originados sob a solidão do campo. Histórias tingidas pela aquarela dos horizontes dos cafezais e pelo verde das folhas das laranjeiras trituradas no frenesi dos dedos aflitos. Filó é a linha tênue que amarra todas as nossas histórias. Por isso permanece fazendo a sua e ampliando a nossa, numa confusão de melodias extraídas dos ecos que nascem dos casarões que povoam as fazendas e seus cafezais.
MAReis

Um comentário:

  1. Sempre te admirei, desde muito jovem já apresentava essa facilidade de escrever coisas maravilhosas que tocavam nossos corações, estou muito feliz por você não estar apenas escrevendo, mas compartilhando com outras pessoas suas experiências de vida, e ao mesmo tempo levando-as a perceber que somos capazes de mudar o rumo de nossas vidas quando acreditamos em nossa capacidade interior, você acreditou que era capaz e foi à luta.
    Quero que saiba que te amo muito. Sua irmã Filó.

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