segunda-feira, 4 de julho de 2011

Série Cafezais 6

Maria José
(Zezé)

A liberdade se chama Maria José. O rio que corre para além dos cafezais se chama Maria José. Há em Maria José todos os risos e todos os choros. Sol e a Lua são plurais. Outros infinitos sóis e outras infinitas luas habitam a história de Maria José. Foi na densidade de seus sonhos que esbocei minha rebelião. Foi nas suas crenças que afiei as unhas do não que cravei na enorme garganta do talhão de café. Esse dragão insaciável que engole homens, mulheres, crianças e tudo que é sonho. Foram nas páginas de sua luta que rascunhei minhas crenças. Foi de suas manias que encontrei o antídoto para meus medos, introjetados e esculpidos na matéria prima do café disfarçado em forma de proteção de meus pais. Foi de suas iras e de seus gestos rebeldes, do colorido psicodélico de suas roupas, de sua mania de não crer em um Deus que aniquila, dessa sua certeza de que só não existe o que não queremos que exista, desse seu jeito sereno de enfrentar a dor, desse seu jeito oculto de chorar a sua dor, dessa sua coragem de se opor e de reconstruir-se cada instante no agito de natureza em gestação, dessas suas verdades tão ingênuas, que plantei meus sonhos que de tão semelhantes aos seus já não sei se são realmente meus. Há em tudo que é Maria José pouquinho de cada um de nós, uma história vertiginosa de vontades, de desejos e de certezas resumidas na sonoridade do seu nome de devoção, Zezé!

MAReis

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