quarta-feira, 13 de julho de 2011

Série Cafezais 13

Zilda
Não nasceu para ser história, mas para construir histórias. É liberdade que povoa as margens floridas dos riachos perenes, casa de todas as espécies de sonhos. Quadro de natureza viva onde reverbera todas as cores, todas as luzes, tudo que há muito além de cada um de nós.  Os olhos, lanternas que rompem a escuridão do agora e iluminam as paisagens que adornam as vidas além dos cafezais. Zilda é eco de um grito em gestação, é força que rompe fronteira, alarga esperanças, constrói outros risos. É como a foice que ceifa os cipós que estrangulam as árvores, mães de todos os frutos. Zilda, como as abelhas em vôo incerto, roubou a essência das floradas dos cafezais, dos laranjais, dos mangueirais e de todas as flores que enfeitam o mundo e sustentam o amanhã, e sob luminosidade intensa do sol, polinizou outros universos estéreis de sonhos. Recolheu da natureza a vertigem do verde, os cantos de todos os pássaros, a destreza de todos os animais, as teias de todos os insetos, a delicadeza de todos os peixes, a sutileza de tudo que faz o pulsar da terra, e dessa coleta construiu a magia de sua alma criadora. Como as borboletas em migração, Zilda vai alçando outros horizontes. Como os esquilos caçadores de nozes, vai escalando as alturas das árvores gigantes arquitetando o próximo salto. Zilda tem a grandeza de projetar-se além de si mesma, a reflexão do protesto de todos nós, a liberdade que brota no esforço continuo na busca do que é novo e renovador. Não sofre da paralisia do instante, ao contrário, antecipa o gesto que inova e que convida para os saltos desafiadores. Enfeita o tempo com os sons que habitam o futuro. Zilda é parte campo e parte urbis, carrega com ela à delicadeza das orquídeas brancas, a beleza das primaveras amarelas, a força dos pendões dos milharais, a alegria das roseiras das praças interioranas, o badalar da matriz, o frenesi das ruas movimentadas, um misto de terra e de pedra. Tem em Zilda um arco-íris desenhado pelas cachoeiras em dias de sol. E na potência da natureza que lhe move a alma, há também, como em todos que amam a vida com a intensidade das tempestades de verão, a dor encolhida, o medo não revelado, a necessidade do abraço perdido, da palavra não dita, do carinho esquecido no tempo e no espaço. É mãe, é filha é mulher. Há uma vontade incontida de reconhecer e ser reconhecida pelo esforço que ladrilha o seu tempo de ser. Amamo-la porque é assim livre, acolhedora, generosa, afetiva, explosiva, impulsiva. Feliz a sua maneira. Tradutora de um amar singular em que revela a sua parte e a parte do outro. Zilda, como tudo que é fraterno, tudo que é festa, tudo que ilumina, ajuda a construir esta história, que não é minha, mas de todos nós. Volta para dar alma às palavras que estão por nascer e fazer parte deste infindável repertório inspirado pelo aroma enfeitiçado de café, colhido na maturidade dos grãos e na revolta dos momentos perdidos na vastidão imperiosa do verde Sumatra. 
MAReis

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